A tipologia é um estudo das lições simbólicas usadas por Deus ao longo da história do Seu trato com os homens em geral e em particular com o Israel antigo, usadas para figurar o que viria a se tornar manifesto e completo na plenitude dos tempos, por conta da encarnação do Verbo de Deus.
Os reformadores protestantes, à semelhança de Agostinho, bispo de Hipona, trabalharam bastante com a tipologia, dada a riqueza de ensinamentos de que ela está revestida.
Tipologia é termo derivado da palavra grega typos, que traduz tanto, marca, imagem quanto padrão ou modelo, conforme seu uso no contexto.
Segundo Groningen (1995, Revelação messiânica no Velho Testamento), esta palavra ocorre cerca de 15 vezes em o Novo Testamento.
Paulo, apóstolo, serviu-se várias vezes da tipologia para fazer interpretação dos ensinos históricos, vertidos em símbolos, no Velho Testamento: Em I Coríntios 10:12, ele tomou a passagem de Israel pelo Mar Vermelho como tipo do batismo; falou da rocha da qual Moisés fez sair água, como tipo de Cristo em I Coríntios 10:4, outro tanto o fez Pedro ( I Pedro 2:4). E temos o tipo por excelência, citado por Paulo, entre outros, em I Coríntios 5:7 do cordeiro pascal simbolizando Cristo. Paulo também nos dá o que tomo por suprassumo da tipologia, em II Timóteo 4:6.
Mas, a tipologia tem suas regras exegéticas, para que não se transforme em vulgarização de espiritualizações textuais, por parte dos que se permitem analogias supérfluas, atropelando a seriedade da Revelação.
Todo tipo corresponde a um antítipo que lhe é perfeito. O antítipo é aquilo para o que o tipo aponta, como vimos agora: a rocha é tipo daquilo que Cristo é o antítipo.
Conforme Groningen (1995), citando Patrick Fairbairn: “As verdades e princípios
com os quais devemos lidar tipologicamente devem corresponder a três critérios: (1) devem ser fatos, circunstâncias ou pessoas históricas referidos no próprio Velho Testamento e que tenham um antítipo no Novo Testamento; (2) devem ter semelhança tanto na forma quanto no intento em ambos os testamentos; e (3) devem ter sido ordenados por Deus e formados de tal modo que prefigurem e antecipem as ‘coisas melhores’ nos Evangelhos”(p.151).
Segundo ainda Groningen, o propósito do tipo era instruir a Igreja para prepará-la para a revelação mais plena que viria, de forma que o tipo não basta a si mesmo como mensagem ou doutrina. Exige seu complemento.
O descuido na observação desses critérios, pode levar alguns a cometerem erros crassos na interpretação tipológica. O exemplo disso temos na arca, que alguns tomam como tipo de Cristo ou da Igreja, quando na verdade ela serve apenas como tipo da obra salvadora de Cristo, e a serpente de bronze, que alguns tomam também como tipo de Cristo, o que não pode acontecer, porque a serpente é tipo do diabo, de Gênesis a Apocalipse, ou de maldição. O tipo não pode contradizer-se. Quando Jesus se referiu à serpente de bronze, Ele fez menção do ato salvador, visto na elevação da serpente, que nesse aspecto foi tipo da maldição que Jesus assumiu na cruz por nós.
Assim, entendemos que a tipologia é uma interpretação de pessoas, situações, eventos históricos e objetos dentro dessas situações, que tiveram lugar como símbolos de realidades celestiais, que por obra de Deus foram usados para fazer parte e ilustrar a história da salvação, nas palavras de Groningen(1995). Um bom exemplo dessas coisas, objetos, é a fita escarlate colocada na janela de Raabe, para sinalizar sua eleição que a livraria da destruição da cidade. Essa fita escarlate lembrava o sangue dos cordeiros nos umbrais das casas de Israel no Egito, às vésperas do Êxodo, e apontava para o sangue da redenção em Cristo.
O livro de Hebreus está impregnado de tipologia, ou referência aos símbolos tipológicos do Velho Testamento.
Há eventos tipológicos, como o êxodo; objetos tipológicos como a rocha, os cordeiros dos sacrifícios, os dois bodes do Yom Kippur, todo o tabernáculo que Moisés construiu, o templo de Salomão, e uma infinidade de outros. Há tipos humanos, que o são não na sua personalidade, mas num dado momento de sua história pessoal, como Moisés, José, Rute, Ester, Daví, entre outros.
Com base no que disse o apóstolo Paulo em Romanos 15:4 é que vamos percorrer a trilha desse rico estudo, começando pelos primórdios da revelação, passando por eventos históricos e os objetos neles utilizados, detendo-nos em alguns personagens humanos.